quarta-feira, janeiro 10, 2007

Unprinted spaces: o que as músicas dizem, o que nós dizemos delas e o que fica por dizer...

Muitas vezes, imagino (ok, talvez esteja a ser um pouco malicioso...) que deve existir em 90% dos cursos de jornalismo uma cadeira que aborde o top ten de perguntas-tipo para fazer a uma banda (“Que estilo de música é que tocam?”; “Quais são as vossas influências?”; “Porque é que cantam em inglês/francês/suahili”...). Há uma dessas perguntas que me coloca sempre em xeque por motivos que adiante especificarei: “Sobre o que é que são as vossas letras?”.
As respostas nem sempre são fáceis. Na altura em que saiu o “A windy day”, desenrascávamo-nos com respostas do tipo: “São sobre experiências pessoais”; “Abordam episódios do dia-a-dia” e por aí adiante. Actualmente, calha sempre ao Bruno responder à pergunta maldita, e ele, airosamente, remete a questão para os ouvintes (“Gostamos
que cada um as interprete à sua maneira”).
As reservas que tenho em relação a esta questão passam um pouco por esta última resposta. Sempre achei deveras irritante interpretações prévias (muitas vezes provenientes dos próprios criadores) de qualquer obra, desmistificando-a logo à partida. Ainda que com limites, cada música ou cada texto apresentará um leque de possibilidades de interpretação que é, desde logo, posto em causa com tais elucidações.
Por outro lado, estive não há muito tempo a visitar, ciberneticamente falando, os Flaming Lips e verifiquei que, SIM, eles também falam de cada uma das músicas que compõe, mas NÃO de um modo que reduza, à partida, uma interpretação das mesmas. Isto fez-me pensar que, afinal, não é
necessário olhar para a coisa de um modo tão extremista.

E todo este palavreado para quê? Bem, já que se está a fazer um diário de bordo das mais recentes gravações, porque não falar um pouco sobre algumas das ideias por detrás de cada música?

“Cow Eyes”: o título não é necessariamente literal (i.e., não, não estamos a falar de uma vaca e dos seus lindos olhos); traduz antes uma expressão que significa qualquer coisa como “olhar embevecido”. Neste sentido, a letra (escrita pelo Bruno) sugere uma quantidade de imagens que exploram essa ideia.
Como já foi aqui dito, a música foi a primeira ideia proveniente das mãos do Luís que conseguimos trabalhar até ao fim. Recordo-me de o ver brincar com uns acordes e de nós tomarmos nota dos mesmos muito rapidamente, não fosse esquecê-los (o que, com o Luís, é muito frequente...). A música ficou praticamente delineada no ensaio seguinte.

“Near-Life Weather Broadcast”: Neste caso, e mais uma vez, penso que o título é mais ou menos elucidativo... a ideia subjacente à letra é a de fazer uma espécie de relatório, onde se cruzam aspectos meteorológicos, sazonais e vivências... ou, se quiserem, como é que a mudança de estação nos dá cabo da cabeça.
A música surgiu quase por acidente: enquanto dedilhava uma viola, reparei que dois acordes tinham exactamente as mesmas notas, excepto uma. E aproveitei-os para a canção. A letra irrompeu quase instantaneamente; encontrávamo-nos precisamente numa mudança de estação (neste caso, no princípio do Outono).

“Satellite”: Neste caso, o título não é tão linear. A letra, escrita pelo Emídio, evoca (e penso não estar a elucidar por completo o seu sentido, já que o texto não se esgota nesta ideia) aquelas noites terríveis em que, por mais que queiramos, não conseguimos dormir. A música nasceu de um improviso no local de ensaio.
A gravação vai ajudar a “arrumar” as ideias de cada um e com isso iremos perder um dos elementos mais característicos da canção: o facto de a mesma ser tocada de maneira sempre diferente pelo Luís (sim, é verídico: ainda não o ouvi, quer em concertos, quer em ensaios, tocá-la da mesma forma)...

“Single Bedroom”: Como já foi dito em textos anteriores, esta é a primeira letra criada em conjunto pela banda (ainda que a partir de algumas ideias já delineadas pelo Bruno). Quase metade da letra consiste na repetição do segmento “The big brown fox jumps over the lazy dog”. Para aqueles que trabalham em design gráfico e que estão habituados a escolher constantemente tipos de letra, a frase poderá soar familiar... Agora juntem à mesma o título e percebem algumas das nossas intenções por detrás da letra... ou não!
Creio que esta foi uma das muitas ideias (neste caso particular, acho que partiu do Emídio) que tínhamos gravado num dos muitos minidiscs que compilam rascunhos trabalhados no local de ensaio. Felizmente, não ficou esquecida...
Väsq

terça-feira, janeiro 09, 2007

sábado, janeiro 06, 2007

Baixos_Single Bedroom; Near-life Weather Broadcast

Esta coisa de fazer baixos corridos não é para mim! Agora percebo porque é que os Depeche Mode só têm baixos sintetizados!...
Vá lá, só falta mais uma música e é com palheta...
Väsq

sexta-feira, janeiro 05, 2007

The Pommery Brut Royal sessions

Nada como festejar duas vezes o ano novo... As vantagens em trabalhar num local afectado pela paranóia dos atentados tem os seus benefícios... particularmente se trabalharmos num Check-In de um aeroporto e tivermos, a dada altura, de informar os passageiros que garrafas com líquidos não podem entrar no avião.
Foi mais ou menos nestas circunstâncias que o Emídio conseguiu arranjar uma boa garrafa de champanhe francês (Pommery Brut Royal) para começarmos as gravações em 2007 da melhor maneira. Todos nós fomos passar o fim de ano a sítios distintos e particularmente distantes uns os outros: Sagres, Faro, Altura, Sevilha; pelo que este foi o primeiro momento do novo ano que estivémos juntos. Nós e o Pommery, pois claro.
Nas sessões anteriores, do "Latest Rags", tivemos a companhia de um scotch valente (se bem que me recordo, era fortíssimo e sabia a fumo) durante boa parte das gravações. Ponderámos até chamar o EP de "The Ardbeg sessions", em homenagem ao líquido escocês que nos inspirou então. Por ora, e enquanto não temos um título totalmente definido (embora algumas ideias já estejam em mente), estas sessões serão as do Pommery. Se bem que a garrafa já se foi...

Väsq