quinta-feira, setembro 28, 2006

Eleven-Eleven: onze anos, onze discos

Tradições são tradições. Por mais que queiramos, nunca delas conseguimos fugir… E quis a tradição que no nosso 11º aniversário tivéssemos de ir comer ao mesmo sítio de sempre (uma pizzaria simpática na rua dos bares), isto apesar de termos tentado escolher outro restaurante (as três escolhas iniciais falharam por todos os locais se encontrarem encerrados). Quis a tradição que comêssemos os mesmos pratos de sempre, ou quase (nisto da comida somos um bocado previsíveis, de facto... o Luís pede sempre, se houver, bitoques com um ovo a cavalo, o que não era o caso, pois estávamos numa pizzaria. E o Emídio, apesar de variar de prato com alguma frequência, não dispensa o ovo estrelado a acompanhar – mesmo quando come choquinhos com tinta). E quis também a tradição que durante a refeição falássemos de… discos.
Assim, por entre a vista de olhos pelo menu (na verdade desnecessária, pois, como já referi, comemos quase sempre o costume) e uns copos de vinho, começaram a surgir aquelas conversas um tanto ou quanto nostálgicas de retrospectiva... felizmente, a coisa não descambou nos áureos anos em que éramos jovens adolescentes e nos enfrascávamos com vodkas com sumo de maçã no Bafo de Baco, mas antes nos primeiros cds que alguma vez tivemos (neste caso, do objecto físico propriamente dito; o vinil foi, pelo menos desta vez, excluído).
As escolhas foram mais ou menos clássicas: o primeiro cd que o Bruno alguma vez teve foi o “Stick Around for a Joy”, dos Sugarcubes; o Emídio, “Purple”, dos Stone Temple Pilots; O Luís (uma escolha no mínimo assustadora… ainda tentámos que ele se tentasse lembrar de outro, mas os nossos apelos não surtiram efeito… enfim, o primeiro cd é sempre o primeiro cd, cá vai…), “Southside”, dos Texas e eu, “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles. Bom, mas primeiros álbuns comprados não são, necessariamente, os mais marcantes (até porque alguns de nós já teríamos coisas mais interessantes em vinil antes de nos devotarmos à nova era digital do cd…). Progressivamente, a conversa foi caindo noutro grupo mais pertinente: o disco que, por este ou aquele motivo, nos marcou de algum modo. E, mais uma vez, as escolhas caíram em alguns clássicos: o coração (ou o ouvido…) do Bruno dividiu-se entre o “Darklands” dos Jesus & Mary Chain e o “Doolitle” de Pixies; o Luís, entre o “London Calling” dos Clash e o single de 45’’ dos Beatles “Let it be”; eu também não me consegui decidir entre o “Eleven-Eleven” dos Come (título, de resto, bastante apropriado para a comemoração do nosso 11º aniversário) ou o “Bakesale” dos Sebadoh e o único de nós que conseguiu ser um pouco menos indeciso foi o Emídio: “Achtung Baby”, dos U2.

Estas escolhas são sempre catitas e dão azo a ramificações extensíssimas (o top ten de filmes mais marcantes, os melhores lados b de um single em vinil, etc.). No entanto, não sei bem se estas escolhas reflectem (pelo menos directamente) alguma coisa da banda ou sequer de cada um dos seus membros.
Lembro-me de ter falado há já algum tempo com o Bruno sobre as escolhas de cada pessoa (livros, discos, filmes, etc) e o modo como tal é determinante na maneira como olhamos para a mesma. Mas, pessoalmente, sinto-me cada vez mais afastado dessa ideia. Se me perguntarem por exemplo qual o meu baixista preferido, eu, que nunca fui muito de escolher instrumentistas (antes coisas mais extensas: bandas, projectos, ideias…), teria de escolher o John Taylor dos Duran Duran (os motivos são óbvios: é o que tem mais estilo!). Se este tipo de escolhas é, por si só, determinante para a concepção de uma pessoa, que representação é que farão de um tipo que nutre admiração por alguém que usa(va) maquilhagem ao kilo e uma franja descolorada?
Post Scriptum: Reparei agora numa tradição a que conseguimos fugir: a de o Emídio pedir um ovo estrelado a acompanhar a comida (algo que não seria de esperar com Canellonis, mas enfim… com o Emídio e os ovos estrelados nunca se sabe o que se pode esperar…)

Väsq